sexta-feira, 25 de julho de 2014

A mente é um animal selvagem.

De onde vem o vazio? A sensação que conheço por vazio é mesmo um vazio? Não existe vazio.
Essa sensação de vazio é a angústia, o vazio é a ausência e na angústia mora o caos.
Mas porque a sensação de vazio? Sempre pensei sobre isso, hoje acredito que a angústia causa essa sensação de perda de si mesmo, um desconforto desconcertante que não compreendemos dimensão ou causa específica, é um estado que pode ser melancólico, eufórico, ou depressivo.
Quanto mais penso, mais percebo que em mim o vazio se dá como um oco no centro do estômago, uma agonia para fugir de mim. É quando me sinto ligada ao caos, como uma condensação de elementos universais prestes a explodir e se expandir. Não cabe em mim.
A tristeza, diferente, tem causa sabida e lembrada, a depressão nenhuma causa porém assola de forma limitadora, dá à apatia. A melancolia é menos forte e mais serena, embora constante, mas a angústia, incomoda como farpa que não consigo retirar pois não sabemos exatamente onde fica.
Parece algo que não é meu. Um clima, um cheiro, uma claridade nos olhos que incomoda.
Respirar parece ser mais difícil,  meditar deve ser a saída.
Para o que não compreendemos, o silêncio da voz e o pensamento aberto é o caminho.
Então,  apagar a luz, fechar os olhos, se deitar e respirar será minha escolha para domar o animal selvagem que é minha mente.




terça-feira, 11 de março de 2014

Abduções, fugas e novelos de lã puxados.

Na casa onde o silêncio traz a lembrança de tantos anos, e tantas emoções vividas, uma específica me vem a mente, quando criança sentava na varanda e olhava para o prédio de seis andares que fica em frente, e desejava com toda a fantasia infantil subir ao seu  topo e abrir os braços, fechar os olhos, e esperar por segundos apenas, que aparecesse uma nave e pousasse sua luz sobre mim, me levando sem volta à uma viagem pelo universo, e eu pudesse ver de perto as estrelas e galaxias que fitava por horas deitada numa rede no quintal. Sim, eu sempre quis fugir, havia também uma ideia ainda mais antiga de que eu poderia por em minha mochila escolar três ou quatro calcinhas, umas revistinhas da turma da mônica, shorts,camisetas e biscoitos e enfrentar o mundo onde ninguém soubesse meu nome. É, eu sempre quis fugir realmente;
Sou dada às fugas, elas me atraem fortemente, pensamentos e memórias seletivas fazem parte desse contexto, dessa característica tão minha, que quando minha mãe como várias outras mães , ameaçava em seu nível de estresse hard, que um dia iria embora e nunca mais ninguém saberia dela, acontecia uma identificação que poucas vezes senti ter com ela. Sou daquelas que mora só e foge de casa, por dias...
Fiz isso novamente esses dias, fugi e vim para o lugar de onde sempre sonhei em fugir, ironia também combina muito com minha vida. 
As vezes sinto que vim com uma falha mental que não me permite criar planos e executa-los da forma correta, ou sequer executa-los, eu vivo tudo na mente e o que acontece é um acaso desordenado que de uma forma ou de outra dá certo, principalmente quando não dá.
Nunca compreendi ou pude guiar-me por nada exato, linha, reta, traço, régua, somas. Tudo é um emaranhado novelo de lã mental, puxa-se um fio e gera-se a incapacidade de retorna-lo ao seu espaço anterior, embora depois de puxado haja uma gama de possibilidades para aquele pedaço separado, e eu sei  disso, apenas não descobri ao certo o que fazer com ele. 
Os meus excessos, minhas compulsões, minha auto destruição continuam, e fodem não só a mente mas o corpo, é minha forma de sentir a vida. É intenso e triste ver quem amo se afastar, ou sofrer por não desejar presenciar meu modus operandi  de vida. Mas, que merda! Não sei ser diferente, não sei se quero, mas tenho as contas, tenho os afetos, tenho as dores na garganta, e na cabeça para me preocupar;
Ainda sou a menina que via o topo do prédio mais alto da cidade, em frente à casa da minha avó e sonhava dormindo e acordada com abdução. Ainda penso em fugir, mas hoje não me bastariam bolachas, revistinhas shorts, camisetas e calcinhas, o mundo se alargou, cresceu, ficou lindo e horrível ao mesmo tempo, e por incrível que pareça, pequeno. Não tem como fugir de você mesmo ainda que em Jeri, ou em Marrakesh. 
Minhas raízes que foram arrancadas desde o nascimento sempre pelejaram para se alimentarem , se situarem, para estarem onde estão, mas nunca consegui, talvez um dia, talvez não. Quem sabe?



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Café e metalinguagem para começar o dia.

O dia começa com a sensação de que entrei numa caixa e me isolei em pensamentos. Não é de dor que falo, falo de vida. Minha introspecção me dá calma, norte, me inspira em palavras que escrevo mentalmente como uma composição poética que me coloca no exato momento, no instante da vida acontecendo.
Minha dificuldade de foco, sempre me limita em estar onde de fato estou, em pensar em algo unicamente, sou uma espécie de caleidoscópio de sensações e pensamentos. Mas, tenho me sentido como uma estátua diante do caos, uma cena de metrópole , corre-corre, barulho, pessoas andando sem parar, e eu ali no meio serena, parada, em contemplação.
Preciso escrever! Esse é o mote das minhas reflexões, há muita coisa acontecendo há todo um livro em prosa na mente, há também poesias soltas que quase consigo alcança-las com a mão esticada e toca-las com as pontas dos dedos, estão aqui, pertinho, e se aproximam mais a cada instante, e eu paciente espero.
Meu sangue não gelou, ainda está quente e correndo pelas veias, apenas estou entregue ao que é maior do que mim mesma, pois é uma força que não sei explicar de onde vem, mas que surge quando é anunciada por esse recolhimento necessário. É como o corpo pedindo água, a minha sede é o meu silêncio pré-criação.
Já escrevi diversas vezes sobre esse processo, sobre esse descamar da alma, e  essa metalinguagem é quase sempre o início de um período fértil.
Dessa vez, atrelada a reflexão desse sacerdócio à palavra, trago também um desejo enorme que nesse momento está me levando a outro lugar, um novo passo, é o meu desejo de ter coragem, de ter ousadia, abrir meus poros e deixar sair cada letra necessária, cada frase salvadora de mim.
Sinto, e sei que assim será. Cara pra bater eu tenho, mas não tenho medo de apanhar, que seja o começo do meu desnudar e que seja doce.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sem filosofia.

É madrugada e como a maioria das outras madrugadas estou acordada, tem sido assim, esse silêncio é o que me faz ter prazer, essa oportunidade de estar em outros lugares, mesmo não saindo daqui, da cadeira , de frente a essa tela clara, essa sala.
Vejo vídeos, leio coisas, coisas de poesia e prosa sobre amor, a música hoje não conseguiu me satisfazer, a inquietação me fez procurar imagens e palavras para poder estar longe daqui.
Imagens se formam na minha cabeça, uma espécie de diário silencioso do meu dia, e percebo o quanto estive distante. Quase queimei a comida, o café saiu muito forte, fiz desenhos com caneta na minha perna enquanto "assistia" a tv, pensei em arrumar a mesinha das revistas e livros e as prateleiras que andam bagunçadas mas, acabei deixando para amanhã.
Nos meus silêncios estão o barulho da minha cabeça que não me permite falar, me atrapalha de sentir, e me limita a de fato pensar. É o caos se aproximando aos pouquinhos, misturando meus desejos, confundindo tudo.
Vejo que está quase amanhecendo, sinto o cheiro próprio que fica no ar somente à essa hora, esse cheiro de nascer do dia, de novo, de recomeço. Tenho vontade de sair de casa enquanto quase não há carros nas ruas, ou pessoas caminhando, é uma vontade de sentir a ilusão da solidão, essa coisa que me dá eixo quando estou completamente perdida. Mas, não saiu, sei que não sairei, ficarei aqui , sentada, tentando ter acesso ao meu coração através de palavras, vídeos, e canções, procurando algum porta voz pra minha cabeça que não consegue me explicar o que sente, embora dê indícios pela arte.
Ainda não ouvi pássaros é como um limbo esse momento de expectativa, é o desejo de me encontrar no começar do dia.
Li a poucas horas, uma crônica do Xico Sá em que ele diz que "O amor é uma invenção que só depende do nada" fiquei pensando se o destino é esse nada,  pois que por parecer tudo,  aproxima-se a definição que usamos para o que é vazio sem ser, por falta de uma compreensão total da palavra. Como exemplifica a poesia da wisława szymborska :

AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS


Quando eu falo a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando eu falo a palavra Silêncio,o destruo.
Quando eu falo a palavra Nada,crio algo que nenhum não-ser comporta.


E meio sem definição para meus pensamentos e palavras me permito seguir na humildade de quem não entende das coisas e só se permite vê-las e senti-las como  Alberto Caeiro: "Pensar é estar doente dos olhos...Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... "  


Começaram os cantos dos pássaros, hora de parar de escrever, e simplesmente sentir.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Amor de uma única poesia ou esperando um resgate.

Ela relê  a poesia que ele faz pra ela, ele narrava em versos seu corpo nu adormecido, na primeira noite em que bêbados, dormiram juntos. A lembrança de quando leu aquela poesia pela primeira vez, se torna inevitável , mas a sensação de se sentir desejada, já não é mais nítida na memória, virou uma espécie de sonho bom que teve um dia. Naquele momento, uma pergunta se torna insistente, onde foram parar aquelas palavras? (O que as motivou perdeu-se no tempo, ela sabia.) Mas todos os versos que aqueles primeiros prometiam, quem os sequestrou ?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Entre as "medianeras".

Sem um sentido lógico nem razão, as coisas na vida acontecem, a vida é assim, e esse seu maior clichê; o inesperado. Mas não basta saber disso, sempre nos surpreendemos. 
O encontro de pessoas, é super estimado diante do desencontro, já que há mais desencontros que o contrário, mas o desencontro também é algo que deveria reter nossa atenção acerca do espanto que nos pode causar. 
A vida é um filme de roteiro difícil e não é de fácil assimilação. Há ironia fina, e humor sarcástico, quase sádico. Não é como naqueles filmes em que tudo acontece de ruim, mas fica bem no final... Aliás, como saber qual o verdadeiro final?
Os desencontros acontecem todo dia, toda hora, mas isso não deve parecer algo ordinário, não subestime o roteiro elaborado, a vida se esforça para que eles aconteçam. (até parece um menino com uma lupa ao sol)
Tínhamos tudo para estarmos próximos, vivermos coisas juntos, criarmos memórias eternas, ("o que a memória ama, fica eterno" Adélia Prado). 
Mas isso não aconteceu, e nem acontece, mesmo estando próximos, nos esbarrando na rua, escutando as mesmas músicas na mesma hora, tendo os mesmo pensamentos, desejos e valores, mesmo tendo as mesmas buscas, pesos e laços. Mesmo tendo tantas esperanças.
Viver é arte do desencontro, não creia o contrário.
Pode parecer pessimismo, talvez seja, eu sinto apenas como constatação, mas tantos desencontros não são tão ruins quanto um encontro real de duas pessoas, que passaram tempo demais desencontradas uma da outra, e seguiram por isso suas vidas, suas histórias, e construíram sentimentos e lembranças em torno delas.
Fica uma sensação de secura na boca, por falta de saliva e de palavras, por falta, muita falta.
Fica a ideia platônica de amor rondando os passares dos dias, a esperança em realidades paralelas onde uma outra história certamente é possível.
Sobretudo fica algo que não me parece ruim, que é apesar De, ter encontrado.

Pensando melhor...

O encontro é lindo sim. Devemos (com amor) estima-lo.



terça-feira, 6 de agosto de 2013

- Acho lindo seu nome!
-Obrigada, também gosto muito dele.
-Me fale de você !
- Hum... falar exatamente o que?
- O que quiser.
(nessa hora ela já sentiu arrependimento pelo início da conversa, entre preguiça e cansaço de pensar sobre si mesma, coisa que esmiúça a mente o dia inteiro)
-Bem, sou alguém uma pessoa simples (poxa, coisa mais clichê, e evasiva, deveria ter dado algo mais objetivo e cortado o a possibilidade de aprofundamento, pensou ela)
-Simples como?
(Eu sabia, merda!)
-Simples pow, simples sem frescura, de boa, na paz..
-Ah, sei. E o que mais?
- Ah, acho que isso. ( pronto é hora de mudar de assunto)
-Então, e você curte escrever também?
- Não, só gosto de ler.
- Hum... e ler o que?
-Ah, de tudo um pouco, romances, contos, poesias, crônicas... coisas que me chamem atenção
- Ah, legal.
(...)
-Você escreve há muito tempo?
- Sim, não sei dizer desde quando.
- E por que?
-Por que o que?
- Por que você escreve?
-Porque preciso.
-Precisa ?? Trabalho??
-Não vida.

...

Se ela não contivesse tanto a torneira que deseja na verdade abrir e deixar desaguar o mundo, a conversa teria sido outra...

-Acho lindo seu nome!
-É eu também. Nome de avó, de mulher forte, me remete à poesia, não queria ter outro.
-Me fale de você!
- Eu? Sou uma pessoa que não sei lidar com o mundo, e que ao mesmo tempo que isso me assusta e angustia, me dá sede e paixão. Sou alguém que preciso me reafirmar que sou eu todos os dias, se não esqueço e mudo, viro um reflexo meu de outra dimensão sem raízes nem certezas de nada.Vivo a surpresa do susto cotidiano de estar aqui, vivendo, perdida, sem saber de nada, absolutamente, me espantando com a força do tédio, e do porvir. Me doo diariamente as vezes muito, o tempo todo, as vezes menos e até pouquinho, mas sempre está lá. A dor. Sou alguém que tem esperanças sem ter esperanças, é a esquizofrenia de querer acreditar mesmo não acreditando, sabe como é? Como a música da Legião "...Mas tão certo quanto o erro de ser um barco à motor e insistir em usar os remos..." Pois é. Procuro perspectivas de beleza a todo instante em tudo, só a beleza tem me salvo, só a beleza resgata em mim essa espécie de chama que me lembra que estou aqui. Gosto de gente, mas não sei se gosto mesmo de mim, não sei o que isso significa, não sei como se mede esse auto amor, não se matar seria uma forma de amar? A quem? Querer viver momentos de alegria? Isso é se amar? O que se é preciso fazer para saber que se ama? Quais caminhos, quais atitudes? As vezes espero um tapa na minha cara da vida, acho que preciso, para acordar, para sofrer, ou para parar de sofrer não sei, só sinto que preciso daqueles que ficam os cinco dedos na face marcados, por horas... Acho que queria ser salva , mas não sei de que, não quero perder minha dor, ela me deixa viva, angaria belezas que me tocam. Será que sou masoquista? Não sei, acho que é porque nunca soube viver de outra maneira, quando não há isso, não há nada. Olha, tive receio de tocar na palavra dor, agora, isso é tão triste, tão preconceituoso de minha parte, então vou repetir, " quando não há dor, não há nada". Não vou marginalizar o que sinto, não posso. Assumo o peso da palavra mas não desprezo a delicadeza , porque sim, é delicado, é uma forma de sentir os mundos, de dentro e de fora da gente, e não pode ser ignorado. Não sei lidar com ela, é fato mas não vou desistir, sem ela perco muito, com ela também perco, apenas quero saber viver. Porque sem dor alguma, a vida me parece ainda mais sem sentido.
...
- Sim, mas fale-me de você, curte escrever também?
- Desculpa tenho que sair. Xau.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Testemunho de quem conhece: Ressaca moral nos tempos de redes sociais.


Se beber não twitte, se beber não fique no Facebook, e assim por diante, em tempos de diversas postagens cotidianas esse é um ótimo conselho a dar a alguém.
Encher a cara e ficar na frente do computador pode ser muito divertido às vezes, mas temos que atentar para o fato de que o superego em certo estado etílico vai pras cucuias mesmo.  Ai já viu, sem filtro rola muito mais “Vai à porra” que na vida real. Rola também, o velho “Foda-se”, que sai a torto e a direita, principalmente se o motivo da tal bebedeira for um escape de tantos problemas que todos temos. Sei que um” PutaQueOPariu" bem dado é uma delícia, porém as vezes o alvo só vira esse, por ter sido mal interpretado e nem merecia essa delicadeza toda.
Não sou moralista, pelo contrário, acredito e defendo a ideia que todo ser humano tem direito de abstrair sua mente da forma como achar melhor, e uso desse meu direito (não muito raramente, rs). Só estou me referindo a tal ressaca moral que acontece assim que faz o login no outro dia, e isso é bem constrangedor, garanto!
Tem também, aquelas declarações desnecessárias de” amor explícito”, cafoníssimas, e inconvenientes nas páginas alheias,  seja de paquera, namorad@, amig@, ou alguém que você sente saudade mas está afastado por algum motivo e na hora do melzinho na veia se derrete tod@. Nesses casos até pode ser bom, se levarem a fofura do gesto em consideração, mas pra evitar passar por bobo é melhor, não.
Outra coisa ruim que acontece quando se está naquele belo estado postando na rede, e é um saco, é a repressão, alguém obviamente vai perceber as frases meio estranhas, algumas incompreensíveis que fazem todo o sentido, mas só pra quem escreveu, e vai começar a tiração [sic] de onda . “Você bebeu?”  “Vai dormir” “Eita que @fulaninho está entregue hoje” e assim por diante,  só que não há como evitar, a exposição está sendo feita por você não adianta achar ruim que alguém tire onda.
Bem, cheguei a um ponto nesse texto que estou me sentindo uma repressora, e acho que preciso mais uma vez me explicar, só que dessa vez mais claramente.
Encher a cara quando se tem vontade, e ficar na net dando risada com os amigos nos bate-papos inbox, curtindo uma besteiras, postando músicas bregas e etc é muito bom,  acho que quem não fez até deveria tentar dar essa relaxada, só desejaria mesmo que quando rolasse , você se lembrasse desse humilde textinho e tentasse segurar a onda, porque os posts e comentários podem ser apagados ,  mas a vergonha fica.





 Creditos da imagem Google Imagens

domingo, 16 de junho de 2013

Introdução.

Essa é uma história de perdas, de escadas com batentes altos demais, onde se torna necessário subir muitas vezes engatinhando, pois os pés simplesmente não alcançam o próximo degrau.
Essa é uma história de uma mulher que quase nunca está consciente sobre tempo e espaço e vive em realidades e mundos paralelos,  a vida assim, sem dúvida, é uma constante luta contra o real e irreal e a mente, sempre a engana.
Falar dessa mulher é complicado pois ao observa-la não consegue-se perceber o mundo que ela esconde através do bom humor, gentilizas e sorrisos. O que se passa na realidade é obscuro demais até para ela mesma.
Cair, se enterrar, ficar imóvel em silêncio, prender a respiração, sempre fizeram parte de sua idiossincrasia, é tão ela que é impossível definir quando começou a viver assim.
 Quando criança adquiriu o hábito de morder suas mãos quando sentia dor e desejava alívio, e isso sempre foi reconfortante como um ópio que se intensificava cada vez que os dentes forçados contra a pele a machucavam. Seguiu com essa mania até os dias de hoje quando já adulta se deita na cama e entre lágrimas e suspiros crava os dentes nas faces das mãos.
Ela diz nunca ter visto isso como uma auto flagelação, era tão doce aquela dor, que sentia vontade de receita-la a quem sofria, também não era arranhar o próprio corpo algo violento, afinal a violência se passava por dentro e aquelas unhas na pele eram só a externação do que corroía sua alma.
Já tiveram punhados de cabelos em suas mãos e a vontade de continuar puxando mechas e mechas de fios.
Mas, nada disso é visto ao olhar pra ela, suas dores já são tão constantes que ela aprendeu a dissimular na "vida".
Vida?
(continua)

sábado, 15 de junho de 2013

Mariazinha

Ei amiga, você não sabe mas já dividi muitos silêncios com você. Não é porque nunca nos vimos pessoalmente que não vivemos momentos presenciais sem palavras.
Estar com uma pessoa em silêncio e se sentir reconfortado e compreendido é um dos maiores prazeres que o ser humano pode vivenciar, e nossa distância física não impede isso, por mais estranho que possa parecer já estive silenciosamente ao seu lado, e você ao meu.
Nossas almas estão próximas embora os corpos distantes, e muitas vezes, como hoje, me reportei ao seu lado em silêncio. Você esteve comigo.
Não queria falar com ninguém mas queria ser compreendida por isso voei até você. Meu pensamento te abraçou, te viu, te sentiu.
Me alimentar de todas as memórias que temos me faz mais forte, mais sábia, mais humana. Não preciso olhar nos seus olhos pra saber certamente que olhar você me daria ao me ouvir, tudo que vem de você fica marcado em mim de forma irremediável pois vai além dos sentidos usuais, percorre tempo e espaço e fixa-se no coração, profundamente.
Hoje não quis te falar sobre minhas dores, angústias, dúvidas e tristes constatações, quis apenas me lembrar que você existe e te falar sem palavras que te amo.
Sou agradecida à vida por te ter. Por saber que estais ai, e mesmo assim sempre aqui.
Sinto que nenhum ser humano me entende como você, pois são meias palavras e tudo absolutamente compreendido. Quase impossível diria os que relegam à linguagem a apenas uma esfera da comunicação, mas conosco é isso que acontece né?
Sou errante, fraca e insegura, temo a vida e a morte, tenho poucas certezas e a perda da racionalidade é mais constante do que gostaria, mas você me entende.
O que posso querer mais?